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A magia do olhar

 

A obra de Juan Rodriguez é intrigante e por isso mesmo apelativa. Desperta o nosso olhar na busca da organização das formas, estimula o nosso sentir através de uma expressão poética na forma de ver o mundo. Na imensidade das definições sobre arte existe uma afirmação de Van Gogh que me parece encaixar-se de forma perfeita à obra de Juan Rodriguez. Dizia o pintor: “A arte é o homem adicionado à natureza que ele traz à luz; é a realidade, a verdade, mas com um significado, a que o artista dá expressão”. Ora, salvaguardado o contexto da época, Juan Rodriguez traz luz a uma natureza que é verdadeira, que é sua e partilhada com os outros. São significados materializados através da uma multiplicidade de formas difusas, passíveis de múltiplas sensações donde resulta uma imensa riqueza visual.

O autor confessa que fotografar é a única coisa que sabe fazer. Se tivermos em conta que o seu trabalho enquanto profissional do meio se encontra centrado em fotografia de arquitectura, onde o rigor das formas e a transposição da realidade são factores essenciais, podemos ter a liberdade de encarar o seu corpo de trabalho artístico como uma atitude de exorcizar a sua mente por contraponto ao trabalho profissional. A obra artística de Juan apresenta uma singularidade na captação da imagem. Muitas destas fotografias contêm metáforas e jogos lumínicos que enceram um mudo pleno de magia. Existe uma aparente subversão da realidade. Mas afinal o que é a realidade? A realidade em concreto não existe. Existem, sim, múltiplas realidades no âmbito das referências apreendidas por cada um de nós. E, nesse sentido, estas fotografias são documentos de infinita riqueza já que a deslocação da realidade que encerram potencializam um sentir de grande diversidade. A ilusão de afastamento da realidade confere à obra de Rodriguez. um lado fantasmagórico que se acentua nalgumas imagens e nos remete para um universo carregado de onirismo. Nesse sentido podemos interpretar esta obra como uma viagem ao interior mental do artista que se dispõe a partilhar com o espectador o seu universo psicológico.

Ao trazermos Juan Rodriguez às paredes do Museu da Imagem estamos seguros de estar a contribuir para o enriquecimento visual e reflectido de todos os que nos visitam.

Rui Prata, Outubro de 2006